quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Chegou a hora de nós dizermos: Vocês não são Civilizados!


A mesma ladainha que nós brasileiros escutamos a vida inteira: “vocês são selvagens, vivem na selva como animais!” precisa finalmente ser repetida para os europeus. Ou aqueles que aqui vivem e se identificam com o capitalismo e a maneira de viver dos colonizadores.

Os próprios latifundiários brasileiros estão se comportando de forma idêntica aos europeus 500 atrás.  Praticam genocídio, agridem física e psicologicamente povos originários neste exato momento sem nenhuma represália da Justiça.  Pyelito Kue é uma aldeia que tem fornecimento de eletricidade limitado, e depende desta para operar um poço artesanal que é o seu único acesso à água. Meses atrás então, um fazendeiro local derrubou o poste de energia que abastecia a comunidade, assim, iniciando um período de verdadeiro terrorismo contra os indígenas.

O próximo passo foi, por “coincidência”, deixar a tekoha sem comida.  Logo em sequencia os alimentos que estas 50 famílias recebiam pararam de ser repassados para a comunidade pela Funai e a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Os parentes lá estão sobrevivendo à base de estender paninhos na umidade e chupar, e farinha. Nada mais.

Capangas da fazenda Cachoeira estão literalmente fazendo um cerco ao redor da reserva. Motoqueiros dos fazendeiros bloqueiam as estradas de acesso, enquanto pistoleiros disparam literalmente contra os Kaiowá.  Lideres estão sendo ameaçados a todo momento e inclusive um barraco foi incendiado (isso sem falar dos Kaiowá que estão presos ou já foram assassinados ao longo dos anos). Em Pyelito uma menina morreu de desnutrição e um jovem gravemente ferido por uma bala de borracha.

Tudo isso deixa claro que o caso dos Guarani-Kaiowá (Paí tavyterã) é um exemplo para todos os Brasileiros. É uma referência de extremo descaso, o ponto em que chegou a indiferença com tudo aquilo que é tradicional deste país.   A terra para os Kaiowá, bem como para a maioria dos povos indígenas, é sagrada. Eles tem uma relação afetiva com a Tekoha (Lugar de Vivência). Em geral os povos originários não conseguem conceber a posse de um pedaço de terra, muito menos sua monetização. Mas infelizmente nos dias de hoje fica difícil enxergar outra saída, senão a demarcação.

Há pouco mais de uma semana Marinalva, uma ativista indígena, foi assassinada após voltar de Brasília.  Ela voltava de uma manifestação em defesa da terra Nu Verá, e era integrante do conselho Aty Guassu. Ela foi encontrada com marcas de facada na BR-163, próximo a Dourados.  Em 2013 foram 39 homicídios entre os Kaiowá, um dos motivos é a não demarcação das terras.  A desculpa dada pelo governo é de que justamente em 1988, o “ano da Constituição”, eles haviam sido expulsos dali alguns anos antes. Isso mesmo com estudos antropológicos que confirmam que ali é território tradicional desta etnia. Para piorar a situação existem poucos empregos em Dourados.

O estado do Mato Grosso do Sul, possui pouco mais de 35 milhões de hectares, comparavelmente é do tamanho da Alemanha, a 3ª maior economia do planeta. Deste território, 66% (22 milhões de hectares) é ocupado por gado, 6% é ocupado por soja (2,1 milhões de hectares), 700 mil hectares são ocupados por eucalipto (provavelmente tentativas de reflorestamento que causam danos extremos ao solo).  Apenas 8 milhões de hectares são ocupados pelos 28 municípios que constituem os  Guarani Kaiowá, região em que habitam há séculos.  Além destas terras, o 2ª maior povo indígena do Brasil reivindica outras terras em Dourados, Iguatemi e Caarapó, que juntos somam 900 mil hectares.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Porque não ceder Áreas de Proteção Ambiental para povos indígenas?

Recentemente um estudo comprovou que reservas de povos nativos do mundo inteiro são as que mais preservaram suas florestas. A taxa de desmatamento foi de quase zero, sendo que ao redor os níveis chegam a ser estratosféricos em alguns países, como na Guatemala e no México. Como podemos ver nesta foto de satélite abaixo, da região da Bacia Amazônica, pode-se ver claramente que as reservas indígenas são como "ilhas de floresta", com "mares de desmatamento" por todos os lados!


Este mesmo estudo da WRI e a RRI (Rights and Resources Initiative) chegou à conclusão que apenas as Aldeias com pleno poder administrativo sobre suas terras conseguiram ter estes resultados. Então será que se a Reserva, entre a Barra da Tijuca e o Recreio, fossem ocupadas por povos indígenas, quem sabe não teriam se livrado de se tornar um Golfe Olímpico (e futuramente condomínio e resort)? Como o próprio estudo conclui, reservas ecológicas e terras indígenas sem gestão própria não obtém o mesmo resultado.


Desde 2004 o Brasil vem reduzindo sua taxa de desmatamento em 70% por ano graças as ações do SIPAM. Sua monitoração e mapeamento são feitas por aviões, drones e satélites Japoneses equipados com radares de última geração, que supervisionam a Amazônia até à noite. Em 2009, durante a Conferência de Copenhague, o Brasil se comprometeu a reduzir seu desmatamento em 65% até 2020. Esta empreitada foi batizada com o nome de Projeto Arcoverde.

Aqui no Estado do Rio de Janeiro temos quase 20% da nossa Mata Atlântica preservada. Lugares como a Reserva Biológica União e o Parque Nacional Serra dos Órgãos parecem estar fora de perigo. Mas o RJ já foi campeão brasileiro de destruição entre 1990-1995, hoje em dia parece ser um dos que menos desmata. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica nosso estado desmatou apenas 11 hectares entre 2012-2013 e 40 ha entre 2011-212, enquanto Piauí, Minas Gerais, Paraná e Bahia juntos desmataram 21.973 hectares, o equivalente a 92% de tudo que se desmatou nos 17 estados que abrigam a Mata Atlântica. Embora aparentemente nosso estado esteja de parabéns, vale à pena lembrar da "Vingança da Mãe Natureza" ocorrida em 2008, quando gaviões, jacarés e preguiças invadiram casas de moradores do subúrbio e Niterói, fugindo de queimadas ilegais.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Introdução ao Blog/Vlog




Ola, Katu ahy para todos,

Como vocês podem ver, já tem 3 anos que eu não posto nada neste Blog, então gostaria de falar um pouco sobre o novo rumo que esta página, Todos Soms Um, vai tomar. Primeiramente eu gostaria de me apresentar, meu nome é Geoffrey, tenho 35 anos, sou brasileiro/americano, e tenho cidadania européia também. Mas eu estarei utilizando esse Blog para resgatar a minha identidade indígena. A minha ancestralidade comprovada é da tribo Ojibway (Chippewa), da etnia Anishnabe, que vivem tradicionalmente nas terras ao redor dos Grandes Lagos, onde ficam as Cataratas do Niágara. Por isso escolhi essa gravura que é um Thunderbird (Wakį́yą) que nesta tribo é usada como um totem, desenhado em artesanatos e também faz parte da Mitologia e Cosmologia deste povo. Essa também é a tribo que originalmente utilizou o Filtro dos Sonhos, muito popular hoje em dia.


Evidentemente, por estarmos no Brasil, vou estar falando na maioria das vezes de indianismo brasileiro, até porque a tendência é que todos nós brasileiros tenhamos algum sangue tupi no nosso DNA. A princípio eu vou focar bastante nos índios Guarany Mbya e nos Guajajaras. Os Mbya é claro pela proximidade, vou tentar inclusive visitar algumas aldeias, aqui no RJ e SP. E os Guajajara pela importância histórica, e a quantidade extensa de material que está disponível. Atualmente estou estudando o Zeegete do tronco Tupi, e Tupi Antigo que foi nosso idioma no Brasil por 150 anos. Existem vários grupos de estudo no Facebook e na internet em geral desta língua, que é bem válida todo brasileiro dar uma olhada, já que gastamos tanto tempo estudando inglês, porque não dedicar um pouco e tempo a algo verdadeiramente nosso?


É claro que vamos estar aqui denunciando injustiças sempre, com um foco especial para a Aldeia Maracanã, os Gurani-Kaiowa e Belo Monte.


A melhor forma dessas situações bizarras de desrespeito com os indígenas pararem de acontecer, é resgatando a nosso cultura, que é a melhor forma de prevenir contra os assassinatos, roubo de terras, preconceito, desmatamento e conversão religiosa. Isso tudo é uma faca nas costas do próprio povo brasileiro, e a única forma do resto do mundo nos respeitar é nós respeitarmos a nós mesmos.


Vamos falar também do conhecimento ancestral, da cosmologia, da convivência dentro da Aldeia, os ritos de passagem, a relação entre homens e mulheres. Como eles se vêem em relação ao mundo, o etnocentrismo, porque eles se referem como “parentes”, porque o “sobrenome” deles, é o próprio nome da tribo. Qual a relação do índio com a Natureza, e a espiritualidade, pajelança, etc.


Como estudante de mestrado, de Cultura e Língua Indígena, com certeza estarei usando este Blog também como intercâmbio de idéias. Com certeza minha bibliografia ainda está deixando bastante a desejar, então vou pedir que os visitantes deixem sugestões de livros, filmes, páginas etc para me ajudar! Principalmente sobre mitos.


Vou estar dando bastante feedback nas minhas aulas na UERJ com o professor Urutau Guajajara. Obrigado Anam! Zawri e até a próxima!!!